segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Ida a uma Comunidade

(Para quem não esteja a par do significado da palavra "Comunidade" em brasileiro quer dizer favela. Lê-se "Comunidadji"!)

Feito este pequeno reparo passo a relatar esta minha "mini" experiência. Hoje, pela primaira vez em toda a minha vida, entrei numa Comunidade. Fui à costureira !!!

A minha amiga Patrícia Solla foi quem me levou. Conhece uma costureira óptima e baratíssima que vive numa Comunidade ao pé de São Conrado. Não é bem a Rocinha, mas fica lá perto. Não se preocupem porque foi (e é sempre, pelo que me relataram) muito tranquilo.

Estaciona-se o carro na estrada "à porta" da dita Comunidade e depois faz-se um caminho pequenino a pé. Ou seja, posso dizer que fui mas realmente não me embrenhei lá por dentro.

É verdadeiramente impressionante. De repente senti-me como em Marraquexe. A diferença é que não é plano e tem muitas escadas e as casas não têm nem traça nem cores iguais. Como cada um faz como quer e com os materiais que pode comprar, não existe um traço minimamente harmonioso, como existe na medina de Marraquexe.  E percebe-se o que a malta diz, coisa que em Marrocos não acontece. Mas as ruas são estreitíssimas. E as portas e janelas das casas estão todas abertas, pelo que dá para, de esguelha, espreitar lá para dentro. Só estavam miúdos pequenos e velhotes.

A dita costureira (que trabalha para grandes lojas aqui do burgo) é muito simpática. Não me recordo do nome dela ... Eglise, creio. A irmã tinha outro nome do género. Ficaram a fazer as bainhas dos cortinados do Ikea, um vestido e uma camisa para remendar. Mas ela também faz bikinis, desde que se leve modelo e lycra (que nesta terra se lê "laicra"). Vou investigar aonde posso comprar uns tecidos para fazer replicas dos macacões que comprei aí em Lisboa!

Acho que ainda não tenho estaleca para lá ir sozinha mas, com companhia, volto. Pode ser que daqui por uns meses já consiga lá ir sozinha, sem me perder. Enquanto escrevo esta crónica tento pensar quem seria, das minhas amigas, pessoa para alinhar numa destas idas à costureira ... A minha querida Crijú, sem dúvida. A minha cunhada Graça acho que também era capaz de alinhar, pois gosta de baratezas e de ir a feiras. A Adélia acho que também alinhava, mas tinha que a levar de mão dada porque senão metia conversa com toda a gente e nunca mais de lá saíamos. E não vejo mais ninguém. Mas surge-me um sorriso quando penso se lá levasse a Inês ou a Gioconda ...

Quem decididamente eu deveria levar eram os meus filhos mais velhos. Para eles verem o que é viver naquelas condições dificeis. Estava tudo limpo e não havia um único papel no chão. Mas as ruas/escadas têm 1m de largura, não existe qualquer privacidade entre as casas, não existem parques infantis, árvores, passeios. Não existe rede de telémovel e uma mesma divisão serve de sala, quarto e cozinha. Existem pátios minúsculos aonde alguns miúdos davam uns chutos numa bola. Existe uma cacofonia de músicas a sair das diferentes janelas, uma mistura de forró, samba e funk.
Mas também vi sorrisos e miúdos da idade deles. Que devem ter tido aulas de manhã, como eles têm. Mas que durante a tarde não têm opção de poder ir para cursos de inglês, aulas de capoeira e de voley ou de ir dar um mergulho à praia. Coisas que eles fazem porque eu insisto (imenso!) e que eles não ligam muito!

Tenho a nítida sensação que não deveria ter publicado esta crónica, pois já sei que daqui a pouco a minha Mãe se vai "passar" comigo pelo skype ... Mas, Mãe, eu não sou inconsciente e sei que não havia perigo nenhum! Lov U! E pode ir comprando aí uns tecidos em Lisboa para mandar fazer uns modelitos quando cá chegar!

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