Nasceu o Francisco e de repente passei a ser Mãe. Lembrarei os detalhes desse dia sempre (ou pelo menos até ser mentalmente capaz). Foi de repente, 15 dias antes do previsto. A angústia do inesperado e do desconhecido, o mistério da existência ou não de dor, a ausência dos meus Pais, a impaciência por o conhecer, por o saber bem, e a mistura de todos estes sentimentos, era tão explosiva que acho que por muitos anos que viva nunca me vou sentir assim novamente. Posso estar a ser injusta com os meus outros filhos, mas a realidade é esta mesmo, não fosse ele o meu primeiro filho. Era miúda, nunca tinha sequer trocado uma fralda! E de repente lá apareceu o Kiko, pequenino e lindo. E lá tive que aprender a mudar fraldas, a dar biberons, a perder noites na Estefânia com faltas de ar e otites. Sinceramente, no princípio, tinha medo dele, de não saber tratar dele, de sentir que pela primeira vez na vida tinha alguém totalmente dependente de mim e de quem gostava mais do que de mim própria. Valeu-me o Pedro, muito mais racional e pragmático do que eu, e que interpretava o malvado livro do Dr. Spock enquanto eu e o bebé chorávamos durante a noite (ele com cólicas e eu … porque sim!).
O Kiko é o meu grande
companheiro, um menino que sempre foi muito meu amigo, desde pequenino.
Portava-se lindamente e era um verdadeiro “senhor”. Sempre foi assim, bem
educadinho, meigo, amigo do seu amigo, com um sentido de justiça único. Tem um
feitio completamente diferente do meu – é calmo, tranquilo, calado, pacato,
caseiro, gosta de desporto, não ferve em pouca água, pensa antes de falar. E se
calhar é por isso que me dou tão bem com ele. Admiro-o imenso. Gostava de ser
como ele em tanta coisa. Ao dizer isto parece que estou a falar de uma pessoa
mais velha, mais madura do que eu. Mas não – estou a falar do meu menino, que
faz hoje 16 anos. Sinto que quando eu crescer quero ser como ele! O bem que ele
me faz quando eu estou à beira de uma fúria e ele me diz, do alto do seu 1,80m
“Mãe, calma! Não fique assim! Acalme-se lá.”
O Francisco tem sido uma grande
ajuda para mim nestes primeiros meses de “emigração”. O exemplo que ele me dá
faz-me pensar e reflectir muita coisa. A sua atitude quando soube desta nossa
mudança de vida deixou-me estupefacta, e a admiração que sinto pela maneira de
ele ser cresceu ainda mais. O seu olhar calmo, directo, tranquilo faz-me seguir
em frente, com força. Ele ajuda-me, fala comigo, dá-me uns abraços fantásticos,
dá-me um beijo quando sabe que eu mais preciso. Também me melga bastante e
“passo-me” com ele por ser tão desarrumado, tão trapalhão. É teimoso que se
farta. E não me faz companhia quando eu quero ir para as compras ou para a
praia!
O tempo passa e sinto que o meu
menino está a crescer rápido de mais. E não é só crescer fisicamente (está
enorme ….). É tudo o resto. Já tem asas, já voa sozinho. Mas eu preciso tanto
que ele voe ao meu lado, que, de vez em quando, me olhe e me dê a mão. Espero
que ele continue pela vida fora a ser o “miúdo impecável” que tem sido até
agora. Que a vida não lhe pregue partidas. Que não se magoe ao ponto de o fazer
mudar e perder a sua integridade. E que continue sempre a dar-me aqueles
abraços que são únicos e com os quais não sei viver!